Para mim, a Música Brasileira é uma das maiores riquezas de nosso país, pela qualidade, variedade de ritmos, musicalidade, poesia, arte, vozes, etc. Enfim, são tantas as qualidades que podemos atribuir à nossa música…
São tantos clássicos, cantores, cantoras, músicos, bandas, duplas e grupos reconhecidos ao longo do tempo, que falta espaço em nosso país para inúmeras boas produções. Por conta disso, muitos talentos são primeiramente, exclusivamente ou mais reconhecidos no exterior do que aqui; como o Ed Motta, que tem gerado polêmica ao escancarar o descontentamento com esta situação.
Mas o assunto que vou abordar neste momento não é sobre o Ed Motta, é sobre Tim Maia, o tio dele, tão polêmico quanto.
O assunto é a música “Você”, um dos maiores clássicos de Tim Maia, que tinha tudo para ser uma das maiores músicas de amor de todos os tempos, se tivesse um final feliz ou acabasse na metade da letra; o que, de forma alguma a desqualifica como Clássico, haja vista que a maioria das músicas brasileiras canta a tristeza.
Como sempre fui apaixonado por artes, muitas vezes ouço de olhos fechados uma música e tento imaginá-la como se eu estivesse lendo um livro. Desta maneira, quando a melodia e a poesia entram em meus ouvidos, sinto como se a música tomasse a forma de um sonho em minha mente.
Ouvindo a música “Você”, o meu sonho foi mais ou menos assim:
A música começa e simultaneamente entra a melodia leve e a voz grave e baixa, como se estivesse orando e agradecendo pelo amor, tão desejado, que havia se tornado real, e pelo fim do sofrimento:
De repente a dor
De esperar terminou,
E o amor veio enfim.
Eu que sempre sonhei,
Mas não acreditei
Muito em mim.
Vi o tempo passar,
O inverno chegar,
Outra vez.
De repente, ele olha para o lado e vê a mulher tão amada, os olhos brilham, o maior sorriso do mundo e seus braços se abrem em câmera lenta, gradativamente a melodia aumenta de volume proporcionalmente à sua voz e ele termina a estrofe cantando “Meu Amooooooorrrrrrrr” com muita alegria e satisfação:
Mas desta vez,
Todo pranto sumiu,
Um encanto surgiu,
Meu amor!
Ele vai ao encontro dela e a abraça com toda a força de seu amor, a melodia chega ao auge e ele canta o que sente por ela a plenos pulmões:
Você,
É mais do que sei!
É mais que pensei!
É mais que esperava!
Baby,
Você,
É algo assim!
É tudo pra mim!
É como eu sonhava!
Baby,
Sou feliz agora!
Mas, quando ele diz que agora é feliz, ela se desvencilha do abraço dele e termina tudo. A melodia cai de volume e a voz fica baixa e trêmula, ao mesmo tempo que as lágrimas brotam:
Não, não vá embora!
Não…
Não, não, não, não, não,
Não, não, não.
Um solo de guitarra surge enquanto ele pensa no que fazer diante daquela situação.
Ele tira de dentro do peito todas as forças de seu amor e decide declarar o seu amor por ela a plenos pulmões, mas lá no fundo, percebe-se a voz trêmula:
Você,
É mais do que sei!
É mais que pensei!
É mais que esperava!
Baby,
Você,
É algo assim!
É tudo pra mim!
É como eu sonhava!
Baby,
Sou feliz agora!
Mas ao perceber que ela não se deixou seduzir, as energias se esvaem e ele percebe, com muita tristeza, que a perdeu:
Não, não vá embora!
Não…
Não, não, não, não, não,
Não, não, não.
Um novo solo de guitarra surge enquanto ele pensa do que fazer diante da decepção.
Então, ele suplica, com todas as suas forças e muita tristeza. Mas, em momento algum, pergunta o que ela sente:
Não, não vá embora!
Não…
Não, não, não, não, não,
Não, não, não.
Vou morrer de saudade!
Vou morrer de saudade!
Vou morrer de saudade!
Não vá embora!
Não vá embora!
Não vá,
Não vá!
Vou morrer de saudade!
Vou morrer de saudade!
Não vá embora!
Não vá,
Não vá!
Vou morrer de saudade!
Vou morrer de saudade!
A música termina com ele sozinho aos prantos e ela indo embora. Mas não sabemos se ela estava bem ou não.
Se estivéssemos falando sobre futebol, “Você” seria a Seleção de 1982.
“Você”, para mim, é o maior banho de água fria da MPB.
(Adriano Duarte)